sábado, 23 de agosto de 2014

Reflexão sobre o XXI Domingo, 24 de Agosto...

O mar das escolhas e eleições...
Quem é o Filho do Homem? Os evangelhos sinópticos conhecem um dos pontos altos da vida de Jesus neste encontro que acontece em Cesareia de Filipe. A pergunta que Jesus dirige aos seus apóstolos, com Ele reunidos, perpassa a história: «Quem dizem os homens que é o Filho do Homem?».
E seus discípulos responderam de acordo a cultura religiosa das pessoas com quem conviviam, na maioria judeus, por isso responderam com personagens do Primeiro Testamento: «Alguns dizem que é João Baptista; outros, que é Elias; outros ainda, que é Jeremias, ou algum dos profetas».
Se perguntássemos a nossos contemporâneos quem é o Filho do Homem, as respostas seriam muito variadas, desde a energia do sol, Gandhi, Madre Teresa de Calcutá, e porque não Dalai Lama? Todos eles mensageiros da vida de Deus. Jesus, voltando-se para os seus, dirige uma pergunta muito directa: «E vós, quem dizem que eu sou?».
Deixemos que esta pergunta chegue hoje a nosso coração, quem dizemos que é Jesus? Podemos responder? Na primeira comunidade de amigos de Jesus, é Pedro quem toma a dianteira e responde: «Tu és o Messias, o Filho do Deus vivo».
Pedro pertencia a uma família de pescadores pobres, estava casado com uma mulher de Cafarnaum e viviam formando uma família alargada na casa de seus sogros. Ao sentir-se atraído e chamado por Jesus, deixa suas pobres redes e o segue.
O testemunho das fontes cristãs contribui para criar a impressão de ser um homem espontâneo e honesto, decidido e entusiasta na sua adesão a Jesus e ao mesmo tempo capaz de duvidar e sucumbir às crises e ao medo. Para os judeus, o imaginário de Messias tinha as características de um guerreiro libertador, o qual teria a missão de terminar com a dominação dos romanos, limpar Israel da presença dos pagãos e estabelecer a paz.
Pedro estava certo ao dizer que Jesus era o Messias. Depois as palavras e a vida de Jesus, especialmente sua morte revelarão que seu messianismo nada tinha ver com estas expectativas. Jesus é o Messias verdadeiro, mas não traz a salvação, destruindo os romanos, senão buscando o reino de Deus e sua justiça para todos. É o Messias crucificado e ressuscitado! Mas tanto Pedro como a primeira comunidade compreenderão isso somente depois da Ressurreição de Jesus.
Outro nome de Jesus que Mateus coloca nos lábios de Pedro é Filho de Deus, que é muito sugestivo para os judeus, pois assim se chama na tradição bíblica Israel, o povo tão querido e cuidado por Deus; também o rei, representante do povo é considerado o "filho de Deus", inclusive alguns homens justos que sobressaem pela sua fidelidade a Deus são chamados de filhos seus.
Pedro escutou Jesus falar com autoridade às multidões, viu-o agir com misericórdia, conhecia também o comportamento singular de Jesus diante de Deus. Pedro tinha escutado Jesus chamar seu Pai como Abbá; percebia sua confiança nele; via que sua obediência a ele era total e sua fidelidade absoluta.
Mas é importante lembrar que Jesus não é um "filho" mais de Deus. É o Filho. Foi Deus Pai quem o enviou ao mundo de seu próprio seio (Gal 4,4). Jesus vem de Deus, sua raiz última está nele. Outra vez, a vida e a morte de Jesus quebraram o imaginário popular de Filho de Deus, porque como é possível que o Filho de Deus seja um desconhecido que vai ser executado pelas autoridades romanas?
Proclamar que Jesus é o Filho de Deus é confessar o mistério de Deus encarnado nesse filho de carpinteiro, da Galileia, entregue à morte por amor.
Jesus é um verdadeiro homem. Nele aparece tudo o que é realmente ser humano: solidariedade, compaixão, serviço aos últimos, que busca o reino de Deus e sua justiça... É Deus, nele se faz presente o Deus verdadeiro, o Deus dos pequenos e crucificados, o Deus do Amor, o Deus que só busca a vida e a felicidade plena para todos seus filhos e filhas, começando pelos últimos!
É, por isso, que diante da confissão de Pedro, Jesus só pode felicitá-lo. É nessa fé que Pedro professa, e nele toda a comunidade cristã, que se funda a Igreja. Ela é o grande tesouro dos cristãos e cristãs, é o que lhes permitirá permanecer e avançar, no meio das fragilidades próprias e tormentas do mundo, fiéis a Deus e ao seu projecto de vida para todos.
A fé em Jesus, o Messias, o Filho de Deus é a rocha sobre a qual foi fundada a Igreja, é a herança que recebemos de nossos antecessores e é o que somos convidados a continuar comunicando com nossa palavra e vida até o fim dos tempos.

A Luminosa Escuridão (oração de Benjamin G. B., sj)
És incompreensível.
Mas a escuridão de teu mistério, é mais luminosa que nossas ideologias, pequenas luzes penduradas nas encruzilhadas.
...O mistério dos teus passos
faz-nos caminhar...
És inacessível.
Mas tua distancia é mais acolhedora do último reduto de meu ser que todos os braços que se fecham com amor sobre meus ombros.
És indizível.
Mas teu nome humildemente orado vai emanando silencioso mais sabedoria que as torrentes de palavras que circulam pela terra.
És imanipulável.
Mas teu desígnio traz até minhas veias uma gota de vida eterna que faz brotar desde o centro de minha realidade todas as minhas criações.

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